A felicidade mora no Quilimanjaro - A criatividade ao serviço do propósito
Set 06, 2021
Eram 16h e o sol refletia intensamente nas margens do Mar Morto, o ponto mais baixo do Planeta Terra. Tinha 0,70€ no bolso, uma mochila com alguns pertences, alimentos para dois ou três dias, uma garrafa de água e a intenção de me deslocar para o Monte Quilimanjaro, o ponto mais alto de África, que é onde mora a felicidade.
Esta introdução soa um pouco a Alquimista, elixir da vida e gongo chinês… e é exatamente a algo do género que soa a muitas pessoas quando falamos em felicidade e trabalho na mesma frase!
Entretanto, sentei-me à sombra de uma cabana, apertei melhor as minhas sandálias de couro, que já estavam atadas às minhas pernas com engenhocas difíceis de perceber, e retirei o bloco de notas da mochila em jeito de quem precisa de reflectir...
Emergia uma questão na minha mente: “Como sair do Mar Morto, atravessar a Jordânia, Israel, Egito, Sudão, Eritreia, Etiópia, Quénia… em direção ao Quilimanjaro?”.
Quando mergulhei na área da felicidade no trabalho, por vezes as pessoas perguntavam-me se esta área consistia em disponibilizar matraquilhos, ping pong, fruta fresca ou ter uma pessoa divertida a animar os colaboradores. Eu dizia que não... mas que se houvesse, porreiro! Sempre senti este tópico como algo muito sério e até penoso porque para mim felicidade no trabalho exige uma tomada de consciência e/ou a busca por um propósito. E este processo apesar de valer a pena pode ser bastante desafiante. Depois fui aligeirando a minha percepção porque…
No bloco de notas comecei a desenhar uma espécie de matriz enquanto o sol me começava a torrar os pés. Escrevi num dos quadrantes: “O que significa o Quilimanjaro para mim?”.
Fui aligeirando porque aprendi e aceitei que nem todas as pessoas sentem o trabalho, como eu, como uma forma de cumprir o seu propósito de vida - contribuir para um mundo melhor. A felicidade é um conceito subjetivo e complexo (cada um tem a sua) e, portanto, o propósito de algumas pessoas é concretizado noutra esfera das suas vidas.
No segundo quadrante escrevi: "Porque quero ir ao Quilimanjaro?".
Então, se existem várias percepções de felicidade dentro de uma empresa, quão criativos podemos ser ou o que é que podemos fazer para promover a felicidade dentro das empresas? Ou mais concretamente, como criar ambientes ou culturas organizacionais em que muitas pessoas se sintam bem, respeitadas e valorizadas?
Isto é tudo muito bonito, a busca pela felicidade... mas comecei a desesperar com o calor e com a ideia maluca que se tinha metido na minha cabeça, apenas com 0,70€ no bolso e a bem dizer um carrego às costas! Até que…
Parece uma ideia meio maluca, um objetivo inalcançável e até há quem pense que simplesmente não é um assunto de trabalho. Dizem: “Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque!”
Até que apareceu um homem com uma idade indecifrável... Aquele tipo de pessoa que pode ter várias idades, ser de qualquer parte e saber de tudo ou de nada. Bem, não existe alguém que não saiba alguma coisa, por mais pequena que seja. E fez-me uma pergunta que preencheu o meu terceiro quadrante: "O que é que estás a fazer?" - ao qual acrescentei um “já” e, sem pensar muito, escrevi no quarto quadrante: O que é que ainda não sei ou o que é que me falta?”.
Mas a verdade é que em 2021 já não há espaço para dar muito crédito a esta separação rígida entre conhaque e trabalho. Emancipação da mulher, igualdade de género, teletrabalho, conciliação entre vida pessoal e profissional, bem-estar, burnout, retenção de talento, propósito, millennials, e… alguém quer continuar?
Depois de conversarmos algum tempo percebi que este homem tinha encontrado a felicidade no Mar Morto. Comecei a comparar-me e a pensar se estaria errada e se faria mais sentido ficar por ali mesmo. Até que o homem me interrompeu e surpreendentemente disse: “Eu venho do Quilimanjaro!”. E agora... que podia eu fazer se o seu ponto de chegada era o meu ponto de partida?
Voltando à minha questão do que podemos fazer para promover ambientes mais felizes. A resposta é complexamente simples: fazer uso da criatividade - criar atividade. Se não existe ou não temos uma coisa, só temos dois caminhos: criá-la ou comprá-la. Como não podemos comprar felicidade, temos então de criá-la.
Então como criar algo tão subjectivo e único para cada pessoa, que pode ter múltiplos caminhos e múltiplas direcções?
Perguntei-lhe: “Quer dizer que posso usar o seu caminho?”. Ao que me respondeu: “Sim podes, mas as pedras que encontrares no lado da berma que caminhares, não serão as mesmas que eu encontrei no sentido oposto. Usava também outros sapatos e, para além disso, tu podes sempre descobrir novas possibilidades.”
A minha sugestão passa por criar uma Questão Criativa, que permita:
- Chegar ao verdadeiro problema a ser resolvido
- Um ponto de partida potente para gerar ideias
- Romper o sistema atual (disrupção)
O homem, que eu agora já considerava um sábio, pergunta-me num tom desafiante: “Como é que tu vais chegar ao Quilimanjaro amando essa experiência?”
Fórmula: Ação + Utilizador + Necessidade + Insight
Chegar + Tu + Quilimanjaro + Amando a experiência
No local de trabalho:
Exemplo 1: Como podemos [oferecer] aos [trabalhadores] uma [experiência profissional] que [eles amem]?
Exemplo 2: Como podemos criar um ambiente de trabalho onde os trabalhadores se sintam felizes?
Exemplo 3: Como podemos desenhar a nossa cultura para que as pessoas se sintam valorizadas?
Em jeito de curiosidade e súmula desta pequena estória, alguns dos passos que nos conduzem até à Questão Criativa, que podemos categorizar em Atividade Divergente (DC) e Atividade Convergente (CA):
Entretanto, foi anoitecendo calmamente. Comi qualquer coisa e decidi pernoitar por ali mesmo.
Nessa noite, debaixo do céu estrelado, tive vários sonhos. E foi assim, depois de uma ampla exploração do tópico onde combinei a análise racional com um processo intuitivo e associativo de coleta de insights, que iniciei a arte do visionamento da minha viagem até à Felicidade.
Fonte: Inspirado por Thnk Innovation Flow (Sensing, Visioning, Prototyping, Scaling)
Joana Rita Pinheiro
Consultora