Fazer uma pausa
27 de julho de 2023
Num mundo que glorifica a corrida incansável pela produtividade, o constante tic-tac do relógio parece ecoar um desafio inescapável: fazer mais, mais depressa. A vida transformou-se numa roda de hamster, onde abrandar para fazer uma pausa parece um acto de rebeldia. Esta dança frenética de multitarefas e responsabilidades infinitas ameaça a arte sublime de não fazer nada, encarando a inactividade como uma falha humana.
Desde a infância, somos submersos na crença de que o trabalho árduo é o passaporte para o sucesso.
Na escola, a pressão para estudar sem cessar em busca de boas notas é intensa. No local de trabalho, a carga horária extra é uma constante na luta para alcançar metas e prazos. A sociedade glorifica a acção contínua e associa a produtividade constante ao volume de trabalho, sugerindo que quanto mais trabalhamos, mais realizamos.
Mas, será realmente assim? Será que o nosso bem-estar, a nossa felicidade, aumenta com a quantidade de trabalho que acumulamos?
A realidade é bem diferente. A pressão de um trabalho constante e incansável pode levar a problemas de saúde física, como doenças cardíacas, hipertensão, perturbações do sono, dores musculoesqueléticas e um sistema imunológico debilitado. Para além disso, o stress crónico associado ao excesso de trabalho pode contribuir para problemas de saúde mental, como o esgotamento (burnout), a ansiedade e a depressão.
Além disso, ao contrário do que possa parecer, trabalhar em excesso pode na realidade diminuir a produtividade. Quando estamos cansados, a nossa capacidade de concentração, tomada de decisões e resolução de problemas fica negativamente afectada e podemos até mesmo perder de vista o nosso propósito profissional, reduzindo a nossa produtividade.
Mas, mais grave ainda, é o impacto na criatividade no trabalho. Quando estamos constantemente sob pressão e stress, a nossa capacidade de pensar de forma criativa e inovadora é comprometida. O tempo de inactividade é essencial para a incubação de novas ideias.
Por isso, é vital reconhecer o poder do equilíbrio entre o trabalho e as pausas. Este equilíbrio é crucial para a nossa saúde física e mental, para a nossa produtividade global e, acima de tudo, para a nossa felicidade. As pausas representam uma ferramenta poderosa para alcançar a produtividade desejada e a felicidade, através da harmonização do propósito e do aumento da criatividade.
Pausas e propósito
O propósito desempenha um papel fundamental na nossa vida profissional. Ter um propósito na vida profissional é, além de benéfico, essencial para a nossa produtividade, foco e bem-estar.
As pausas estão intrinsecamente ligadas ao propósito. No frenesim do trabalho e da vida quotidiana, é fácil perdermos de vista o que realmente importa. Quando paramos para descansar, reflectir ou simplesmente existir, temos tempo para questionar: Estou a seguir a direcção certa? O que estou a fazer está alinhado com os meus valores e objectivos?
Estes momentos de introspecção são vitais para manter a nossa autenticidade e integridade no mundo do trabalho. Sem eles, podemos facilmente desviar-nos, ficando presos em trabalhos e tarefas que nos podem afastar do nosso propósito. Ao fazer uma pausa, garantimos que estamos no caminho certo, reorientando-nos, se e quando necessário.
O propósito fornece um sentido de direção, ajuda-nos a tomar decisões importantes e a definir metas. Saber qual é o nosso propósito permite-nos alinhar o nosso trabalho diário com os nossos objetivos a longo prazo. Este alinhamento aumenta o impacto do nosso trabalho.
O propósito permite-nos facilmente encontrar a motivação para perseverar, mesmo quando enfrentamos desafios. Ele ajuda-nos a manter o foco e a motivação, pois sabemos que o nosso trabalho contribui para algo maior.
Pausas e criatividade
A criatividade é a faísca que acende a imaginação e a chave que destrava a inovação. É uma habilidade inerente a todos nós, um processo cognitivo que nos permite conceber e desenvolver ideias originais, abordar problemas de maneiras inovadoras e expressar-nos de forma única.
No coração da criatividade está a capacidade de fazer conexões novas e inusitadas, de ver as relações entre coisas que aparentemente não estão relacionadas. É através desta capacidade de sintetizar e reinventar que surgem as grandes ideias, os avanços tecnológicos, as belas obras de arte e as soluções inovadoras para problemas complexos.
A criatividade não é um dom reservado a alguns poucos escolhidos, como artistas, escritores ou inventores. É um músculo que todos nós possuímos e que pode, e deve, ser fortalecido com a prática. Independentemente de quem somos ou do que fazemos, todos nós temos a capacidade de ser criativos. Todos nós temos a capacidade de ver o mundo de uma maneira diferente, de sonhar grande e de fazer a diferença. Isso é criatividade.
As pausas são o viveiro onde a criatividade ganha vida.
A tensão constante, seja auto-imposta ou externa, tende a sufocar o nosso pensamento inovador. A criatividade não prospera sob stress; precisa de espaço para respirar, para explorar e expressar-se.
Os momentos de pausa proporcionam esse espaço, convidando-nos a conectar com a nossa intuição, a sonhar acordados e a estabelecer ligações inovadoras. Quantas vezes a ideia luminosa surgiu enquanto tomava um banho relaxante? Quantas vezes a resposta para um desafio se apresentou durante uma corrida matinal? Estes momentos de aparente ociosidade, quando a nossa mente está relaxada e tem a liberdade de percorrer caminhos desconhecidos, são os instantes em que a nossa criatividade consegue verdadeiramente florescer.
Inspirando-nos nas ideias de John Cleese (um dos membros do icónico grupo de comédia Monty Python, mas que se tornou num importante estudioso e defensor da criatividade e do pensamento inovador), é crucial compreender a importância de alternar entre o modo "fechado" - eficiente e orientado para a tarefa - e o modo "aberto" - um estado mais relaxado, propício ao pensamento criativo.
Nestas pausas, conseguimos criar um espaço tranquilo e dedicar tempo suficiente para que a nossa mente se concentre e descanse, permitindo que o nosso lado mais criativo tome a liderança. As pausas são, assim, mais do que simples interlúdios no nosso dia; são as condições necessárias para que o pensamento inovador surja e floresça.
O Poder das Pausas no nosso dia-a-dia
As pausas têm um papel crucial na produtividade e no bem-estar. Elas implicam desligar-se das tarefas que ocupam o nosso dia-a-dia, oferecendo à nossa mente e ao nosso corpo a oportunidade de descansar. As pausas permitem que nos afastemos do ruído e do caos para refletir, recarregar e reorientar. É importante dar-se a oportunidade de se afastar das tarefas e responsabilidades por um momento.
Uma das técnicas que podemos utilizar é a Técnica Pomodoro, criada e apresentada por Francesco Cirillo no final dos anos 1980. Enquanto estudante universitário, Cirillo descobriu que ao dividir o seu tempo de estudo em intervalos concentrados de 25 minutos, separados por pequenas pausas de 5 minutos, ele era capaz de melhorar a sua produtividade e a sua capacidade de foco.
A cada quatro "Pomodoros", períodos de 25 minutos, faz-se uma pausa mais longa, geralmente de 15 a 30 minutos. Esta é uma oportunidade para relaxar mais profundamente, talvez fazer uma caminhada na natureza, tomar um café com alguém, meditar um pouco, ou simplesmente descansar. Demonstrou-se que este padrão de trabalho e descanso é extremamente eficaz na manutenção da produtividade ao longo do dia.
A técnica de Pomodoro é um excelente exemplo de como podemos estruturar o nosso tempo para aproveitar os benefícios das pausas regulares. A verdadeira produtividade não é uma estrada reta, ininterrupta e sem fim, mas sim um caminho alternado de esforço e descanso, no qual cada pausa é uma oportunidade de recarregar e preparar-se para o próximo desafio.
Este tempo de descanso não apenas nos ajuda a aliviar o stress e a tensão, mas também a processar informações, a tomar decisões e a gerar novas ideias. As pausas atuam como uma espécie de reset cognitivo, dando-nos uma nova perspetiva e energia renovada ao longo do dia.
O Poder das Pausas nas “Férias Grandes”
Mas as pausas no dia-a-dia não são suficientes. Quem de nós não tem saudades das “férias grandes” da escola? As pausas maiores são essenciais para aumentar a reflexão, o ócio e o descanso. Aquilo que estas três “tarefas” têm em comum é que precisam de tempo e espaço.
Agora que estamos em pleno verão, temos este tempo e, provavelmente, este espaço tão necessário à nossa saúde física e mental e à nossa felicidade. O verão, com os seus longos dias e paisagens inspiradoras, convida-nos a desfrutar do presente, a reconectar com a natureza e a aproveitar o tempo ao ar livre.
Sim, a natureza. Vários estudos mostram que passar tempo na natureza pode ter um impacto profundamente positivo no nosso bem-estar mental e físico. Passar apenas 20 minutos na natureza pode melhorar significativamente o nosso bem-estar.
As férias de verão são uma oportunidade ideal para incorporar pausas de qualidade que podem ajudar a recarregar a energia e o foco, melhorar o bem-estar geral e estimular a criatividade. Aqui estão algumas sugestões de atividades que podem melhorar a qualidade das suas pausas durante as férias de verão:
- Actividades ao ar livre: As atividades ao ar livre são uma excelente maneira de se reconectar com a natureza e desfrutar do sol de verão. Isso pode incluir caminhadas, ciclismo, piqueniques, jardinagem, ou até mesmo simplesmente ler um livro sob a sombra de uma árvore.
- Meditação e ioga:Práticas de mindfulness como meditação e yoga ajudam a aliviar o stress e melhorar o foco e a consciência. Mesmo apenas alguns minutos por dia podem ter um impacto significativo.
- Exercício físico: Exercitar-se regularmente não só beneficia a saúde física, mas também ajuda a aliviar o stress e melhorar o humor. Pode ser algo tão simples como uma caminhada diária ou algo mais intenso como uma corrida ou um treino de alta intensidade.
- Ler: A leitura é uma maneira maravilhosa de relaxar e escapar. Além disso, pode ajudar a expandir o seu conhecimento e estimular a criatividade.
- Arte e hobbies criativos: Participar em atividades criativas, como desenho, pintura, escrita, ou mesmo cozinhar, pode ser uma forma eficaz de relaxar e estimular a mente.
- Viagens e exploração: Se possível, viajar para um novo local é uma excelente maneira de sair da rotina diária, experimentar novas culturas, e ganhar novas perspetivas.
- Tempo de qualidade com os entes queridos: Passar tempo de qualidade com a família e os amigos ajuda a fortalecer os laços e proporcionar alegria e relaxamento.
- Desconectar-se da tecnologia:Fazer uma "desintoxicação digital" pode ser benéfico para a saúde mental. Isso pode incluir limitar o uso de dispositivos eletrónicos, evitar as redes sociais, ou simplesmente desligar o telefone por um tempo.
Lembre-se, o que importa mais é escolher atividades que lhe tragam alegria e permitam que relaxe e recarregue. As pausas não são apenas sobre fazer nada; são sobre fazer coisas que nutrem a sua mente, corpo e espírito.
O regresso ao trabalho
Ao permitir a nós mesmos descansar e desligar completamente do trabalho durante as férias, criamos espaço para que novas ideias e inspirações surjam. O nosso subconsciente continua a processar e a integrar as informações que acumulámos, trabalhando em desafios em segundo plano enquanto conscientemente descansamos e nos divertimos.
Quando voltamos ao trabalho após uma pausa significativa, frequentemente sentimo-nos mais frescos, mais energizados e mais focados. Este rejuvenescimento não apenas melhora a nossa produtividade, mas também nos permite abordar as tarefas com um novo nível de criatividade e inovação.
Aproveitar um tempo de descanso de qualidade também pode nos ajudar a reavaliar as nossas prioridades e a definir metas claras para o futuro. Pode dar-nos a oportunidade de refletir sobre o nosso progresso, considerar onde gostaríamos de estar e criar um plano para chegar lá.
Este processo de reavaliação e definição de metas é particularmente útil quando enfrentamos desafios ou mudanças no ambiente de trabalho. Pode ajudar-nos a identificar soluções inovadoras, a adaptar-nos a novas circunstâncias e a manter a motivação a longo prazo.
Além disso, uma mente descansada e rejuvenescida é mais resiliente. Ao cuidar de nós mesmos através de descanso adequado e relaxamento, estamos na verdade cultivando a nossa resiliência. Isso nos permite lidar melhor com o stress, recuperar mais rapidamente de contratempos e enfrentar desafios com mais eficácia.
Finalmente, o regresso ao trabalho após uma pausa pode também ser uma oportunidade para implementar novos hábitos e rotinas. Talvez tenha descoberto uma nova prática de mindfulness durante as férias que gostaria de incorporar na sua rotina diária. Ou talvez tenha percebido que precisa fazer mais pausas durante o dia para manter o seu foco e energia.
Em suma, as pausas, tanto as diárias quanto as férias mais longas, são essenciais para a nossa produtividade, bem-estar e criatividade. Elas permitem que reponhamos as nossas energias, refletimos e nos reorientamos, e nos preparamos para os desafios futuros com uma mente mais clara e focada.
Então, da próxima vez que se sentir culpado por tirar uma pausa, lembre-se do poder que as pausas têm. Não só você merece uma pausa, mas o seu trabalho também se beneficiará dela.
Master Coach